DIABETES CANINA
Nos últimos anos temos atendido diversos cães com diabetes. É uma doença de causa multifatorial mas os hábitos de vida e a nutrição são os fatores mais importantes que contribuem para o aumento dessa incidência.
Estamos compartilhando com os nossos animais hábitos de vida muito prejudiciais. Sedentarismo, estresse psicológico, má nutrição com alimentos processados, ultra-processados, carboidratos simples (pão, biscoito, bolo) e açúcar são as principais causas. Questões genéticas, o uso de fármacos (glicocorticóides, anticoncepcionais) e outras doenças metabólicas podem causar a diabetes canina.
A Diabetes Mellitus canina (DMC) ocorre devido a perda da função das células Beta pancreáticas. Reduzindo a produção de insulina e gerando um quadro de Hiperglicemia secundária. É uma doença grave, crônica sistêmica decorrente da deficiência relativa ou absoluta de insulina resultando em várias alterações metabólicas no corpo do animal podendo levar a morte.
Podemos ter pacientes diabetes mellitus insulino dependentes (DMID) – tipo 1 ou diabetes mellitus não insulino dependentes (DMNID) – tipo 2. A grande maioria dos animais são insulino dependentes (DMID) e precisarão de aplicações de insulina por toda a vida após o diagnóstico da doença.
O diabetes reversível (transitório) é extremamente incomum em cães, sendo as fêmeas expostas a progesterona as mais propensas a apresentarem essa forma de doença. Pode ocorrer em fêmeas que recebem progestógenos sintéticos, no período pós cio ( diestro), gestação, ou nos quadros de infecção uterina ( hiperplasia endometrial cística – piometra). Ocorre porque nesses casos a glândula mamária da fêmea pode produzir quantidades significativas de GH ( hormônio do crescimento). Esse hormônio pode exercer ação endócrina à distância com possibilidade de aumentar a resistência periférica da insulina. Nesses casos o animal começa a desenvolver Hiperglicemia pela dificuldade de ação da insulina que já é produzida pelo pâncreas do animal.
Cadelas que estão em diestro ou com hiperplasia endometrial cística e apresentando HIPERGLICEMIA precisam ser castradas. Esse procedimento cirúrgico nessas casos pode trazer a remissão completa da diabetes.
Eventualmente, algumas pacientes não castradas podem sofrer remissão espontânea ao término do diestro, porém com grande probabilidade de desenvolver Diabetes insulino dependente no próximo cio uma vez que as células Beta funcionais, estão bastante reduzidas nesses pacientes.
As fêmeas são afetadas pelo menos duas vezes mais que os machos. Machos castrados apresentam risco maior de desenvolverem Diabetes que machos inteiros.
Os sinais clínicos mais comuns são: aumento da sede e produção de urina, perda de peso e aumento do apetite. Quando o paciente não recebe o diagnóstico e o tratamento rapidamente pode apresentar catarata, vômitos, fraqueza, falta de apetite e prostração.
A maioria das pessoas diabéticas apresentam os níveis de LDL elevados. Esse aumento do LDL (que é responsável pelo quadro de aterosclerose) associado ao excesso de glicose circulante causam hipóxia tecidual (redução da irrigação sanguínea) e posteriormente morte celular. E isso justifica a dificuldade de cicatrização de lesões principalmente em extremidades (pés) em seres humanos com a doença.
Nos seres humanos também ocorre a Neuropatia Sensorial que é a perda da sensibilidade dos nervos, que funciona como proteção para o organismo. Sem sentir dor ou desconforto, o diabético é incapaz de perceber a fricção de calçados apertados, objetos estranhos no sapato (pedras, por exemplo) ou lesões causadas ao pisar descalço em um objeto. Nesses casos, a pele é lesionada e o paciente demora a tomar conhecimento do problema.
A espécie canina não apresenta níveis significativos de LDL, por isso não observamos dificuldade em cicatrização e circulação sanguínea de extremidades em animais diabéticos como observamos em seres humanos. Nos cães a fração de colesterol predominante é o HDL.
E a neuropatia é mais observada em gatos do que em cães.
O tratamento consiste em iniciar o protocolo de insulina conforme orientação do veterinário o quanto antes (nos pacientes diagnosticados com Diabetes insulino dependentes), rotina bem definida (horários certos para fazer atividade física, aplicação de insulina e receber a alimentação) e principalmente um PLANEJAMENTO DE ALIMENTAÇÃO NATURAL ADEQUADO. Quando retiramos os alimentos processados ( ração, petiscos, bifinhos e biscoitos) já conseguimos um resultado muito positivo.
Minha experiência trabalhando há bastante tempo com pacientes diabéticos e que recebem alimentação natural própria para o quadro é muito positiva. Esses animais tem a dose de insulina reduzida, apresentam um excelente controle glicêmico (mesmo na condição de diabéticos) e aumentam a qualidade de vida. Para os pacientes pré diabéticos o adequado manejo (com rotina de atividade física, boa alimentação e redução de peso), normalmente já são suficientes
Gabriela Rodrigues Monteiro
Médica Veterinária e proprietária da Vet Healing.
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