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Deixar ir - Deixar Ir

Deixar Ir

O termo Eutanásia origina-se do grego  Eu+ thanatos  entendida como a prática de aliviar ou evitar sofrimento através da morte sem dor, como um ato de compaixão pelo ser que sofre intensamente, em estágio final de doença incurável.

A Eutanásia é permitida na medicina veterinária nos casos onde o reconhecimento do sofrimento e a ausência de ferramentas para aliviar a dor está presente. A decisão deve ser conjunta (veterinário e tutor).

Em situações onde existe doença incurável mas sem sofrimento ou com possibilidades de dar o suporte necessário para o animal com cuidados paliativos ( conforto, acolhimento, amor, supressão de dor e desconforto) aguardando o processo natural da morte é o mais indicado. Não tentar abreviar o que precisa e pode ocorrer de forma natural. Assim como o nascimento.

Falar de morte é falar de algo profundo, enigmático e misterioso aos olhos humanos.  As pessoas  tem  grande dificuldade em lidar com o luto.  Seja em relação as pessoas ou os animais que convivem conosco.

Apesar da dor que sentimos no momento da morte de um ente querido ( membro humano ou membro animal ) precisamos entender que a morte é a única certeza que temos em vida.

E precisa ser encarada como algo natural mesmo sendo doloroso. Para tentar entender mais sobre esse processo da vida retiramos alguns  trechos do livro:  A morte é um dia que vale a pena se viver da autora Ana Cláudia Quintana Arantes. Nesse livro são descritas  as fases do   processo de morte pela linguagem e entendimento da medicina tradicional chinesa. E confirmados pela experiência da Autora do livro e médica de cuidados paliativos nos seus anos de atuação e acompanhamento da morte.

‘’Os orientais nos falam dos quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar. Como parte da natureza, também somos feitos deles. Quando morrermos, ocorrerá a dissolução dos elementos que compõem o nosso corpo.

Se pensamos na dissolução da terra, é mais ou menos óbvio que se trata da questão física, concreta, na pele; ao longo do processo de doença, ele ocorrerá mais ou menos rapidamente a depender da agressividade da doença. O corpo começará a se desintegrar.

Depois virá a dissolução da água. Biologicamente falando, a ‘’pessoa’’ tende a ficar mais desidratada e faz menos xixi. Diminui a produção de fluidos corporais, de secreções e enzimas do tubo digestivo e dos brônquios; as mucosas ficam mais secas. Os rins pararão de funcionar, porque esse é o momento de não produzir mais urina. Pacientes que experimentam a etapa da dissolução da água têm certo processo de comportamento muito característico: tendem a ficar mais introspectivos. Olham para dentro de si e para dentro da própria vida. Chega o momento da verdade, de encarar com honestidade o caminho percorrido. Então a família fala: ‘’ Você está triste? Não está reagindo? ’’ Sim, está reagindo. Está reagindo internamente. Mergulhando fundo como nunca antes, buscando a si mesmo dentro da própria essência. Porque nesse momento, em que estará se aprofundando na própria essência, começa a dissolução do fogo. É desse aprofundar-se que o paciente emerge pleno!

Na dissolução do fogo, cada uma das células tomará consciência de que o tempo está acabando, mas que ainda é tempo de vida. Sempre há tempo para ser o protagonista da própria vida, mas na dissolução do fogo encontramos o espaço de manifestação mais pleno dela. Estamos caminhando para o fim, mas agora o caminho fica mais belo e mais cheio de vida. Se cada uma das suas células percebe o fim, poderíamos pensar que haveria um caos de desespero, um estado de pânico celular e um colapso absoluto. Não, isso não acontece. Se tivéssemos sempre essa conexão com a nossa consciência celular, estaríamos vivendo o tempo inteiro em harmonia e equilíbrio. Quando cada uma das células se dá conta de que seu tempo aqui está se encerrando, elas se esforçam por mostrar, pela última vez, seu melhor estado de funcionamento. Então, as células do seu fígado se tornam hepatócitos exemplares, as do pulmão, incrivelmente hábeis em realizar as trocas gasosas; as células do seu cérebro despertam e aqueles neurônios todos que nunca foram usados acordam e, curiosos, observam o cenário e dizem: ‘’Deixe-me ver o que está acontecendo. ’’ De repente, todo o seu corpo funciona bem. O que, então, acontece com a ‘’pessoa’’? Ela funciona bem, também. É a famosa visita da saúde, a melhora antes da morte, a bela força da última chama da vela. E essa ‘’pessoa’’ tem a chance de mostrar ao mundo o motivo que a trouxe até aqui: amor. Terminando a dissolução do fogo, o encontro verdadeiro com sua essência, a ’’pessoa’’ descobrirá o sagrado que mora no mais profundo espaço dentro dela. Nesse espaço mais profundo e sagrado está o sopro vital. O sopro vital corresponde ao elemento ar, que nos foi emprestado por Deus (ou pelo Universo) para que realizássemos nossa missão na Terra. E, assim que essa missão estiver concluída, deveremos devolvê-lo a quem nos emprestou.

 Começa então a dissolução do ar. Essa é a fase da agonia, processo que a maioria das pessoas vai chamar de ‘’morrer. ’’ Porque a percepção real da morte iminente acontece somente na dissolução do ar. Até lá, o corpo está doente;

Na dissolução da água existe a tristeza, que pode ou não ser atenuada pelo antidepressivo, mas acontece. Então passamos pela fase de melhora, um tempo no qual a experiência de estar vivo parece plena. E entramos na fase de agonia: teremos que devolver o sopro vital. E ele sairá pelo mesmo caminho por onde entrou. Virá a fase da agonia respiratória, em que a pessoa respira mal, rápido ou devagar, depois faz uma pausa, seguida de uma respiração profunda. A ‘’pessoa’’ que morre está nua, liberta de todas as vestes físicas, emocionais, sociais, familiares e espirituais. E, por estar nua, consegue nos ver da mesma forma. Estar ao lado de alguém que está morrendo é desnudar-se também. Quanto tempo esse período vai durar? Ninguém sabe ainda. Esse ‘’não saber’’ do tempo nos traz a possibilidade de vivenciar o momento presente. Ele nos traz a oportunidade de experimentar a plenitude. Quando dizemos que nos sentimos plenos é porque estamos com o pensamento, o sentimento, a atitude e o corpo, todos juntos, no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Estar ao lado de ‘’alguém’’ que se aproxima da morte pode ser um momento de plenitude na nossa vida, algo que ocorre rápida e fugazmente. A morte, do outro ou nossa, será uma rara ou até única experiência de estarmos verdadeiramente presentes na nossa vida.”

Na nossa experiência não há diferença significativa comparando o processo de morte das pessoas com os animais em nível físico assim como os 4 elementos da natureza.

A diferença que percebemos é que os animais podem estar mais bem preparados nesse momento. Pois desde que iniciam a caminhada por aqui já vivem intensamente no presente. Reconhecem o fechamento de ciclos e se preocupam apenas quando o apego por eles é excessivo. “Deixar ir’’  é  tarefa a ser cumprida por nós  quando estamos passando pelo processo de morte do nosso animal. Aprender a confiar no processo natural da passagem sem culpas  e saber que nada acaba. Apenas se transforma. 

Sabrina Oliveira e Gabi Rodrigues

REFERÊNCIAS:

FELIX, Z.C., et al. Eutanásia, distanásia e ortonásia: revisão integrativa de literatura. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 9, p. 2733-2746, set. 2013.

FERREIRA, C.M., et al. Reflexões sobre a morte: teologia e saúde. Enfermagem Revista, Belo Horizonte, v. 16, n. 3, p. 265-275, set./dez. 2012.

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